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Carta do Silêncio ao Senhor Shiva

Foto do escritor: espacoohanaomespacoohanaom



Venho humildemente informar que no ano que vem não irei necessitar de vossos préstimos.


O senhor, com vossa dança cósmica, destrói o que não mais nos cabe para a abertura de um novo ciclo.


O invoquei nos anos anteriores para me transformar.


Este ano será diferente.


Peço que o senhor descanse no berço esplêndido de vossa alquimia. Passeie com vosso filho, meu lord Ganapati e entregue flores à senhora dona do Universo, minha querida Parvati.


Voem pelos derredores das montanhas límpidas da energia primorosa dos Devas. Visitem as magníficas realidades inconcebíveis dos reinos abstratos e tomem um chá ao som da flauta do nobre Senhor Krishna.


Descansem nos leitos fartos de Gaia, tomem do néctar da Terra ancestral. Inspirem êxtases transcendentais aos discípulos do amor e dancem nos corações das incautas almas incrédulas.


Aproveite, meu Senhor. Não se preocupe comigo.


Enquanto eu for silêncio, viajarei contigo e de nada necessitarei.


Enquanto eu for silêncio, viverei como tu vives, respirarei o ar de tuas narinas, comerei os manjares com tua língua e meu coração se derreterá qual o Ganges quando recebe o neófito filho.


Apenas deixa-me, Senhor Shiva. Basta para mim de destruição.


Também não criarei ou manterei nada neste mundo.


Seguirei apenas o som do farfalhar do vestido de Pitambara, a que me embala na luz dourada dos mistérios que eu nunca pretenderei desvendar.


Com devoção,


Vossa serva ✍️


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